Una Salus Victus Revisitado

domingo, novembro 06, 2005

A Montanha e a Caverna

Esta é uma fábula sobre viver!

Num mundo onde amar é mais complicado do que se pensa e faz-nos ter esperança em coisas impossíveis!

Todos os meus fins-de-semana, os livres pelo menos, ia escalar uma montanha, pequena é certo, mas uma montanha!

De todas as vezes que a escalei, nunca consegui chegar ao seu topo.

Por medo, faltou sempre a coragem para chegar ao último metro!

Fosse pelo medo incutido por outros, fosse pelo medo de chegar ao desconhecido!

Durante 5 anos, continuei a escalar essa montanha, sem nunca chegar ao seu topo.

Um dia, no entanto, surgiu uma outra pessoa a escalar a minha montanha.

Perante a competição, consegui chegar, cumprir o ultimo metro!

Descobri que a minha montanha era um vulcão.

O que explicou o calor que sentia sempre que encostava nas suas encostas.

E esse calor aconchegante manteve-me vivo tantas vezes.

Decidi descer pelo cone, descer à caverna! Descobrir o seu interior.

Mas cheguei tarde!

A concorrência chegara primeiro ao MEU calor.

Mas não compreendia o seu calor!

Nem a magia que ele transmitia.

De repente percebi que o meu maior tesouro, escapara-me pelos dedos!

Sempre estivera numa caverna desconhecida, sob meus pés!

E nunca, até aquele momento, compreendera o que significava.

Agora, nas mãos de outro, fico entristecido!

A olhar para a minha montanha, usurpada.

Tenho de reconhecer que ela nunca fora realmente minha.

Mas considerava-a minha.

De facto, aprendi a amar essa montanha-vulcão, com o mesmo amor com que se ama a vida!

Agora era tarde!

De vez em quando ainda me passa na cabeça roubar esse tesouro!

Mas não seria justo.

Terá de ser o próprio tesouro da montanha a mostrar-se novamente a mim!

Mas o que me custa mesmo é que quem tem esse tesouro, não sabe o que tem em mãos!

Nem sequer sabe ou sonha o verdadeiro valor do tesouro.

Insiste em desestabilizar o magma que faz viver...

Torna-lo algo de mau, destruir a sua essência!

Tenta ignora-lo ou conduzi-lo como se de uma ovelha se tratasse!

Cuidado, amigo! A lava não perdoa o mal que lhe fazes!

Acredito que há-de ficar sem esse tesouro.

Pois a natureza não tolera os abusos.

Mas ate lá, só posso ver a montanha de longe e esperar que um dia possa voltar a escala-la!

Mas sem o calor, sem o meu tesouro, sinto-me sem fulgor.

Mas a paciência e a própria natureza, que a montanha gerou, ensinou e fomentou em mim, talvez um dia me acolha no seu ventre!

Mas, mesmo que nunca mais escale essa montanha, declarei-me seu protector!

Compreendo-a, sinto-a, como se de fizesse parte, esse monte de terra, rocha, basalto, lava e magma, é algo tão vivo e real, que sinto-a como uma pessoa!

Sinto-a como ser pensante.

Mas tarde descubro esta maravilha!

Quem sabe se um dia conseguirei dar-lhe as flores que tanto precisa, o sol que precisa, o amor que realmente precisa.

Vou continuar a viver!

A procura de uma montanha mais alta!

Mas sei que nunca irei encontrar esse calor que manteve vivo.

O meu real destino é o de procurar, buscar!

Como outros antes, serei aquele que vai desbravar novos mundos.

Travar novas batalhas!

O meu destino está nas minhas mãos!

Mas continuo insensatamente a espera de uma luz, de uma erupção vulcânica que escorrace o usurpador.

Ela vai acontecer.

Quiçá amanha...quiçá daqui a 20 anos.

Mas vai acontecer!

Ate lá, espero! E protejo o que puder!

É o meu caminho! É o caminho que escolhi.

E no meio da tristeza, saber que o caminho que sigo é o caminho que escolhi, conforta-me!

E ate fortalece-me.

Essa é a minha natureza nunca desistir de sonhar, de desejar, de almejar fazer o último metro!

Agora já não tenho medo desse metro!

Só tenho medo de o não conseguir fazer de novo!

Mas espero pacientemente, o dia em que a montanha se lembre, que estou à sua espera!

GDTM